DO PASSADO AO PRESENTE - Por Andréia Graf Petermann
Meu nome é Andréia Graf Petermann nasci em 1978, sou casada com Valdecir Petermann e tenho um filho de 10 anos, Thiago Felipe. Sempre moramos aqui na Cristalina.
Vou contar um pouco do que lembro e algumas coisas que guardo na lembrança.
Lembro-me de que tudo era mais difícil. Na escola, tínhamos quatro séries juntas, uma merendeira que fazia tudo e o inspetor que vinha algumas vezes ao ano e nós morríamos de medo dele. “Lá vinha o inspetor”. Todos iam a pé para a escola, os pais não tinha carro ou moto e quando chovia muito os alunos que moravam mais longe faltavam, e nós só desenhávamos e fazíamos joguinhos (adorávamos quando chovia). Para continuar a estudar precisei ir de bicicleta para Dom Joaquim, uns cinco quilômetros, sendo a estrada bem deserta.
A vida das famílias era muito sofrida. Quase todos trabalhavam na roça, sem maquinário, tudo muito manual, capinado há enxada, derrubado a machado, puxado com zorras ou carroças, quase não existiam compradores para os produtos, pois as pessoas produziam boa parte do que consumiam e com o que conseguiam vender compravam somente o necessário. Como quase ninguém tinha carro, andavam de carroça ou carro de molas. As roupas eram passadas de pais para filhos, de irmão para irmão e depois de rasgadas ainda eram remendadas e usadas de novo. Lembro-me ainda hoje que a tia Maria dizia: “Guarda - roupa não come pão”, isso era quando ganhávamos roupas que ainda não serviam.
Meu pai Genésio e minha mãe Maria se casaram muito jovens porque me encomendaram cedo e por isso chegamos a morar num rancho até conseguirem construir uma pequena casa de madeira que nem chuveiro tinha, tomávamos banho de bacia. Tenho uma irmã e dois irmãos. Tudo era muito difícil, pois meu pai trabalhava sozinho porque minha mãe ganhava asma e meus irmãos ainda eram muitos pequenos.
Lembro-me que na casa da minha vó materna a Vó Rita e do meu saudoso Vô Vendelino (falecido, que guardo na minha memória e no meu coração por ter sido muito especial para todos nós), era muita gente.
Com 10 filhos, genros, noras e netos quase todos morando perto, era sempre uma barulheira e aos domingos ainda vinham os que moravam longe, então a bagunça era completa.
Aos sábados minha vó fazia aquelas fornadas de cucas e aquelas varadas de corujas, fazendo corujas miniaturas para os pequenos. Nos tempos de Natal, ajudávamos ela a fazer os doces, cortando, colocando as baguinhas coloridas para enfeitar. Na Páscoa, fazíamos cestinhas com papel de seda cortadinhos com o maior capricho e colando com cola de trigo. Enfeitávamos casquinhas fazendo flores com papeis de seda, rosas e bombonzinhos. Minha vó me ensinou até a fazer pontos de tricô. Fazíamos macarrão e colocávamos em cima da chapa do fogão a lenha para torrar e comer como salgadinho.
Matava porco e era a maior bagunça, vinha muita gente para ajudar e para comer aqueles miúdos do porco. E nós crianças levávamos as morcilhas que meu avô mandava para os vizinhos.
No inverno, era quem podia mais para pegar o melhor lugar ao redor do fogão a lenha para se esquentar.
Desde pequenos todos tínhamos serviços, ajudávamos no que podíamos. O tempo mais difícil era no plantio de fumo, ir jogar muda, puxar cavalos naqueles morros com aqueles torrões de barro duro que doíam os pés, amarrar fumo e emanilhar para depois vender e quase não sobrava nada de dinheiro, pagava a dívida do banco e o mercado que era marcado durante a safra, não sobrava quase nada.
Tempos sofridos mais tempos também felizes. Hoje eu percebo uma mudança muito grande.
A população cresceu muito, tem algumas empresas, restaurantes, estamos com uma ótima escola com biblioteca, quadra de esporte, parquinho para as crianças, sala de informática, merenda boa feita com todo o amor e carinho, as crianças entram com três anos e saem aos onze anos da escola, se não reprovarem. A equipe é muito boa, no qual cuida de nossas crianças com o maior carinho e responsabilidade. As crianças que moram mais que dois quilômetros da escola a tupique leva e busca sem precisar pagar nada. Já temos em construção uma linda igreja com galpão para festas, bem amplo e com salas para catequese.
As pessoas conversam mais, se encontram nas missas aos domingos e são bem solidárias, participando dos diversos movimentos da igreja e na construção da mesma.
Temos luz nos postes, caminhão que pega o lixo, internet e até um pedaço de água tratada e asfalto.
Conseguimos tudo isso até agora porque com certeza somos pessoas que lutamos para conseguirmos as coisas, juntos vamos tendo as conquistas para melhorar a vida das pessoas de nossa comunidade.
“De mãos dadas há caminho, porque juntos somos mais”.
A igreja no meu ponto de vista é a maior conquista, porque não estamos pensando só nesta vida, mas sim queremos que a comunidade também cresça no amor a Deus e também ao próximo.
Enfim, quero dizer que é muito bom morar aqui, aqui é o meu lugar, um pedacinho do paraíso com natureza e paz.
Bem, cheguei ao fim e era isso que eu gostaria de deixar registrado.