sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Experiências do tempo - "Mala Viajante"

Me chamo Amélia Petermann, nasci no ano de 1944, sempre morei na comunidade da Cristalina, são 69 anos de experiências de vida. Vou contar alguns momentos da minha vida que foram muito marcantes. Os meus pais Luis e Anna Vogel tiveram 10 filhos e todos trabalhavam na lavoura. Até os 6 anos de idade eu estava em casa com a minha família, depois a minha irmã mais velha casou, logo ficou grávida e eu fui cuidar da neném, era uma criança cuidando de outra criança. Foram 2 anos na casa dela e só voltei junto com a minha mãe porque o meu pai faleceu. Eu precisava ajudar a mãe, pois eram muitos filhos para sustentar. Eu comecei a ir a escola com 8 anos e fiz até a 3ª série, mas nesse tempo eu fiquei 6 meses em casa direto, por causa de uma postema embaixo do pé, eu andava na ponta dos pés, a dor e o frio eram demais. Na época do fumo me lembro do trabalho duro e sofrido, mas éramos uma família unida. Após um dia de trabalho, toda noite rezávamos o terço e sentávamos para conversar e contar piada. 

Em 1952, a mãe comprou um rádio e a bateria durava 15 dias, era ligado bem pouco, foi uma alegria sem fim. A mãe sempre guardava as sobras da casa, como: banana, ovos, manteiga e vendia no centro da cidade. Com o dinheiro ela comprava trigo, sal, sabão, balas e o pão (bingala). No natal e em outras festas, nós nunca pensávamos em ganhar presente, mas sim de esperar o café, o pão de trigo (uma fatia para cada um) e a cuca. Trabalhei como empregada da família Schlosser por 4 anos, era considerada uma filha para a família. Um dia antes de me casar no ano de 1963, voltei para a casa da minha mãe. Me lembro que na época com 19 anos cheguei a fazer a minha própria calcinha para usar no casamento e com as sobras de tecidos fiz um coador de café. Nos primeiros dias de casada eu ganhei um pedaço de charque da mãe e comi a semana toda com aipim, tudo era mais difícil. 

O meu marido Anselmo faleceu faz 14 anos, mas me deixou 5 lindos filhos, netos e futuramente os bisnetos. Já passei pela experiência do câncer, que hoje considero uma superação e vitória, me sinto mais forte. Também, trabalho na comunidade como Ministra da Eucaristia, é um orgulho e uma responsabilidade em favor de Deus. Agradeço pela vida e pelas lutas conquistadas.

Amélia Petermann - Aposentada - 69 anos

Saiba mais sobre o Projeto: http://www.escolaekz.blogspot.com.br/2013/05/a-mala-viajante.html

4 comentários:

  1. Parabéns! Adorei o blog e os textos sobre o projeto da mala viajante!
    Tem um texto do historiador britânico Eric Hobsbawn que fala sobre a falta de vínculo que os jovens de hoje tem com o passado. Nas palavras dele, "Quase todos os jovens de hoje crescem numa espécie de presente contínuo, sem qualquer relação orgânica com o passado público da época em que vivem." Neste sentido, entendo que este Projeto da Mala Viajante é muito importante por manter viva a memória da Comunidade da Cristalina e por aproximar a escola dos moradores de seu entorno.
    Parabéns a todos as alunos, aos funcionário da escola e a comunidade que abraçou este projeto, com destaque para a incansável professora Elaine Petermann e para a diretora Vitória, que procuram fazer tudo com muito empenho e dedicação!

    Um abraço!!!

    Regiane Pedrini Fischer
    coordenadora Pedagógica na Secretaria de Educação - Brusque/SC

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  2. Anete Maria Lauht Pruner16 de agosto de 2013 às 10:08


    Me emocionei muito ouvindo a historia da D. Amelia, sou um pouco mais nova que ela e me lembro de como as coisas eram dificeis e a gente só podia contar com a família, me lembro da familia reunida para rezar, saudades daquele tempo. As facilidades do mundo atual não melhoraram as pessoas, parece que elas ficaram indiferentes umas com as outras. Adorei esse relato.

    Anete Maria Lauth Pruner

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  3. Com certeza é uma história emocionante Dona Anete! Um forte abraço.

    EEF "Edith Krieger Zabel"

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  4. Parabéns D.Amelia pela bela história de vida.

    Vitória Elena Werner Staack

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